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Racismo e urbanismo, nos EUA e no Brasil.
Um memorando em caráter de contribuição.

Eu tenho sentido muita falta de leitura e interpretação da dimensão urbana do racismo na imprensa brasileira.
Gostaria de compartilhar alguns conhecimentos aprendidos, oferecendo um panorama histórico, a partir da minha estada em Harvard, em grande parte estudando as políticas habitacionais e o modelo do desenvolvimento comunitário implementado nos EUA a partir dos anos 70.
No Brasil, há uma ideia repetida de que a segregação espacial é fruto da pobreza, ou seja, uma “expressão” da diferença de classes, e não uma consequência do racismo. Não é bem assim.
Separar a população negra no território, na cidade, foi um modo histórico mas ainda muito atual e vivo de perpetuar a segregação, gerando apartheids sutis para brancos porém mortais para pretos e pardos.
Neste sentido, EUA e Brasil são muitos distintos no método, mas obtém resultados similares, contudo, com maior agudez e violência na realidade brasileira.

Os EUA oficialmente segregaram usando raça como critério para financiamento da casa própria, do zoneamento urbano e da instalação de infraestrutura, como as highways, por exemplo. Este processo é chamado “redlining”, algo como traçar com linha vermelha, um modo de marcar nos mapas das prefeituras e dos bancos aos bairros onde os negros deveriam morar e permanecer.
Era política pública e oficial, que buscava tentar igualar as condições de infraestrutura mas manter separadas as raças, uma premissa social constante na sociedade estadunidense.

As remoções de “slums”, uma nomenclatura inglesa genérica para cortiços, favelas, e moradia precária, foram totalitariamente efetivas e populações inteiras foram removidas para conjuntos habitacionais verticais, os “projects”, que foram a face social do “urban renewal”, uma palavra urbanística quase maldita hoje em dia e que define o movimento de remodelação e…