A Manjedoura
Presentes no momento do nascimento do Menino Jesus sentiríamos o cheiro do esterco dos animais e talvez algumas moscas nos incomodassem.
O odor forte do estábulo nos lembraria que aquele era o lugar do gado, dos animais de criação e abate, onde a terra batida misturada à elevada umidade de Belém nesta época do ano criavam atmosfera rural e dura. Provavelmente o ruído dos bichos também se embolasse nos sons ásperos do aramaico. Um ambiente de cacofonias e confusão.
Talvez faltasse um dente em José, que naturalmente sorria muito. Maria suava muito, quem sabe, depois do trabalho de parto. Como fazia frio, as pesadas vestes embalavam suores intensos dos corpos ativos e fortes, acostumados a longa caminhadas, especialmente a jornada feita pelo casal imigrante.
Veríamos a pele morena do bebê sob faixas de lã, algodão cru. Algum sangue poderia se notar, provavelmente.
Numa manjedoura, lugar improvisado para aliviar a mulher cansada e sair do nível do solo sujo, colocava o recém-nascido na altura do focinho dos animais, acostumados eram com aquele mobiliário onde bebericavam, comiam restos e deixavam sua saliva intensa.
Naquela época estes comedouros de ovelhas, cabras e gado eram esculpidos na pedra, um côncavo a ser preenchido com ração, cujo fundo permitia que os restos liquefeitos escorressem saindo pelo solo, tornando mais…